.. Kardec, em Obras Póstumas, no capítulo “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, como em O Livro dos Espíritos, destaca:
Risquem-se das leis e das instituições, das religiões e da educação, os últimos restos da barbárie e os privilégios; destruam-se por completo todas as causas que dão vida e desenvolvimento a estes eternos obstáculos do verdadeiro progresso e que, por assim dizer, aspiramos por todos os povos na atmosfera social, e então os homens compreenderão os deveres e benefícios da fraternidade, e a liberdade e igualdade se estabelecerão por si mesmas de qualquer forma”.
[…] Se quisermos preparar um futuro melhor, comecemos, de início, por instruir o homem quanto às verdades necessárias, por torná-lo mais sábio, mais esclarecido, mais senhor de si mesmo e de suas paixões […]
[…] Apesar de todas essas melhorias, o povo permanece descontente, a classe operária parece desdenhar a realização gradual e metódica dos processos sociais, uma espécie de azedume persiste entre um grande número e, entretanto, a situação material do operário é, em geral, preferível à da pequena burguesia.
Por que o povo permanece desconfiado e às vezes hostil? É que ele foi por muito tempo enganado, subestimado e mesmo traído em seu passado. O povo se tornou incrédulo não apenas a respeito dos dogmas, mas ainda a respeito das promessas eleitorais. Entretanto, ele não é cético. O que ele pede antes de tudo é a justiça. E essa aspiração que ele cultiva para a justiça imanente não é um sentimento poderoso e quase religioso? Pode se encontrar no fundo da consciência e está aí no meio de incerteza e contradição o que nos orienta para um estado melhor. Falta-nos instituições que cultivem a justiça, na família, na cidade, que dela tornem o móvel de todas as ações.
Nesse sentido há muito ainda que fazer, pois não é tudo assegurar ao trabalhador o pão e a moradia. O povo não tem apenas necessidades materiais; ele pede também que se cultivem suas faculdades superiores, na instrução, muito negligenciada por uma política materialista, por sua insuficiência e seus falsos métodos, o que muito contribuiu para criar o mal estar que sofremos. Povo tornado soberano tem necessidade de ser mais conhecido em seus votos e seus julgamentos.
É preciso preocupar-se em dar ao homem uma fé livre e desinteressada, que o sustente em suas provas, uma crença racional que lhe permita reagir contra as causas de infelicidade. É chegada a hora de substituir o dogma envelhecido por um ideal científico e esclarecido em harmonia com a evolução humana. Então o povo mostrará todas as qualidades que nele subsistem e ver-se-á dissipar os preconceitos e a desconfiança que a democracia inspira ainda a certos espíritos inquietos.[…]”
Socialismo e Espiritismo – Leon Dennis – texto escrito em 1924
Imagem em destaque: foto do Museu da Língua Portuguesa – SP