Em 77, quando ainda estava no cursinho, ganhei de meu amigo Mario um livro que ficou por vários anos na minha estante sem muita utilidade, parece que esperando o momento certo de ser útil. Comecei a lecionar quando estava terminando a Faculdade e fui professora durante uns cinco anos, depois, resolvi partir para outras áreas. Este livro ficou esquecido até que há sete anos voltei a dar aulas, desta vez com outras idéias, mais madura e procurando fazer a minha parte no caminho que estava reiniciando e, neste momento, foi importante redescobrir este livro – O Mestre na Educação de Pedro de Camargo, editado em 1977, que mostra em capítulos singelos algumas lições de um grande mestre.
Do capítulo Instrução e Educação retirei este trecho:
Em todas as ciências é certo que há muitos erros, dos quais nasce a diferença de opiniões; em todas as ciências há muitas ignorâncias, as quais confessam os maiores letrados que não compreendem nem alcançam. Pois se veio a Sabedoria divina ao mundo, por que não alumiou estes erros, por que não tirou estas ignorâncias? Porque errar ou acertar em todas as matérias, sabê-las ou não as saber, pouca coisa importa; o que só importa é saber salvar, o que só importa é acertar a ser bom: e isto é o que nos veio ensinar Jesus. Nem ensinou aos filósofos a composição dos continentes, nem aos geômetras a quadratura do círculo, nem aos mareantes a altura de Leste e Oeste, nem aos químicos o descobrimento da pedra filosofal, nem aos médicos as virtudes das ervas, das plantas e dos mesmos elementos; nem aos astrólogos e astrônomos o curso, a grandeza, o número e as influências dos astros: só nos ensinou a ser humildes, só nos ensinou a ser castos, só nos ensinou a fugir da avareza, só nos ensinou a perdoar as injúrias, só nos ensinou a sofrer perseguições pela causa da justiça, só nos ensinou a chorar e aborrecer o pecado e amar e exercitar a virtude; porque estas são as regras e as conclusões, estes os preceitos e os teoremas por onde se aprende a ser bom, a ser justo, que é a ciência que professou e veio ensinar o Filho de Deus.” – Pedro de Camargo
É de semelhante espécie de ensino que precisam os homens de nossos dias. Todos os problemas do momento atual se resumem em uma questão de caráter: só pela educação podem ser solucionados.
Demasiada importância se liga às várias modalidades do saber, descuidando-se do principal: a ciência do bem.
Os pais geralmente se preocupam com a carreira que os filhos deverão seguir, deixando-se impressionar pelo brilho e pelo resultado utilitário que de tais carreiras possam advir. No entanto, deixam de se atentar para a questão fundamental da vida, da criação e consolidação do caráter. Antes de tudo – e acima de tudo – os pais devem cuidar da educação moral dos filhos, relegando às inclinações e vocações de cada um a escolha da profissão como acessório.
A crise que assoberba o mundo é a crise de caráter, responsável por todas as outras.
O momento reclama a ação de homens honestos, escrupulosos, possuídos do espírito de justiça e compenetrados das suas responsabilidades.
Temos vivido sob o despotismo da inteligência. Cumpre sacudir-lhe o jugo fascinador, proclamando o reinado do caráter, o império da consciência, da moral e dos sentimentos.
Rose Valverde
Imagem em Destaque: Detalhe da Pintura Santa Ceia, de Rose Valverde