Em matéria publicada pela Tribuna de Minas nesse domingo (30/01) “DCE vira escola de líderes de JF” destaco um trecho que tem a ver com minhas memórias da época da Faculdade.
[…]Parte das memórias e todo o contexto histórico que envolve o fortalecimento do DCE, entre os anos de 1974 e 1984 é contada pela mestre em História pela UFJF, professora Gislene Lacerda, no livro ‘Memórias de esquerda’, com previsão de lançamento para o mês de abril. As informações fazem parte da sua pesquisa, que resultou em uma dissertação de mestrado. ‘O ano de 1979 é muito importante para a luta pela anistia em Juiz de Fora. O movimento teve uma atuação muito grande, fazendo passeatas e eventos, como a ocupação do Restaurante Universitário (RU) pela qualidade da comida. Que era ruim e cara’, conta a historiadora.
Protestos, invasões e prisões
O episódio destacado pela professora é narrado por Cheker, então presidente do DCE. ‘Eu me recordo de estar chegando ao Campus de carro e ver as tropas do Exército, acionadas pelo reitor, deixando o caminhão e indo para cima dos estudantes’, relembra. O ato resultou na prisão de alguns manifestantes, o que sensibilizou autoridades como o então senador Itamar Franco, hoje no PPS. Em um dos seus discursos no Congresso, Itamar chegou a fazer um apelo para que os estudantes fossem soltos – entre eles, além de Cheker, estava também o deputado federal Paulo Delgado. ‘Embora tenhamos, sim, corrido da polícia, dos cães e dos gases lacrimogêneos, nossa época ainda foi mais tranquila. Embora nós ainda tenhamos sido presos, foi um período bem mais leve’, ressalta Cheker.[…]”
Lembro que nesse dia que o Flávio Cheker relatou, eu e meu primo, estavamos descendo a rua São Sebastião para ir a aula e, quando fui chegando perto da reitoria, vi vários soldados militares com escudos e cassetetes fechando a entrada da rua, no trecho entre a São Sebastião e Silva Jardim, aonde ficava o RU do centro. Fiquei apavorada e escondi a minha pasta que denunciava minha condição de estudante, fomos dar a volta no quarteirão e vi que pelo outro lado a rua também estava fechada. Eu e meu primo resolvemos não subir para a UFJF, pois não sabiamos o que estava acontecendo. Junto com várias pessoas que estavam sem entender o que estava assistindo, ouvimos os estudantes cantando o Hino Nacional por várias vezes seguidas e percebemos que era uma forma de defesa, já que os soldados não saiam de sua posição enquanto estavam ouvindo o hino. Foi emocionante ouvir o Hino Nacional sendo utilizado dessa forma como uma maneira de vencer a truculência da qual estavam sendo vítimas.
Esse foi um dos momentos mais marcantes que vivi e me fez perceber a extensão da opressão de um regime ditatorial em relação a uma simples manifestação estudantil. Hoje, abrimos o jornal e vimos jovens se enfrentando e até se matando, não por um ideal político e social, mas por motivos fúteis ou pelo envolvimento com o crime e o trafico. Nessa mesma edição da Tribuna li um relato de uma rixa envolvendo cerca de 14 jovens entre 17 a 23 anos, tendo como resultado vários jovens feridos à faca e um tiro na perna de um deles.
No decorrer dos últimos trinta anos percebemos a mudança nas atitudes dos jovens e adultos em nosso país. Mais violência, desinteresse pelos estudos, pela situação social e política do país e desinteresse pelas suas próprias vidas.
A banalização da vida…
A falta de objetivos…
O que está faltando? Família? Educação? Religiosidade? Respeito?
…Acho que precisamos nos unir e pensar em soluções para isso. Mudar atitudes, dar bons exemplos, fortalecer as relações familiares e comunitárias.
Investir mais no SER e não no TER.
O desespero é uma doença. E um povo desesperado, lesado por dificuldades enormes, pode enlouquecer, como qualquer indivíduo. Ele pode perder o seu próprio discernimento. Isso é lamentável, mas pode-se dizer que tudo decorre da ausência de educação, principalmente de formação religiosa.”
Chico Xavier