Há alguns anos Ronaldo Fraga esteve em Juiz de Fora realizando uma palestra no MAMM (Museu de Arte Murilo Mendes) e a estilista Bia Simões fez uma pergunta cuja resposta me instigou a pesquisar um pouco mais sobre a Indústria Têxtil de JF.
Bia Simões – O que você conhece da moda de Juiz de Fora?
Ronaldo Fraga – Não muita coisa. Sei que aqui tem uma forte indústria de roupa, mas isso é diferente de ter uma indústria de moda. A moda é muito mais uma cultura do intangível, enquanto a indústria mantém uma relação mais próxima com o tempo que a gente vive. A abertura das faculdades de moda já é um caminho para que isso evolua. Se for provocado um estímulo à criação, acho que só vai dar coisa boa. O que falta é pegar essa indústria de roupa e dar a ela elementos de identidade local. Particularmente, me desculpem, mas não consigo ver as marcas mais conhecidas daqui como indústrias de moda.
Fonte: Tribuna de Minas
Eu já realizava no Centro de Educação de Jovens e Adultos Dr. Geraldo Moutinho (CEM) o curso de Desenho de moda que passou em 2010 a integrar o curso de Costura Industrial e Moda. Em função da pesquisa em que o nosso grupo da Confraria de Arte realiza em relação a identidade dos artistas visuais de Juiz de Fora passei a instigar meus alunos a pesquisar um pouco mais sobre moda e principalmente a questionar sobre a identidade de nossa cidade.
Tenho enfatatizado o trabalho que o Ronaldo Fraga realiza unindo a moda a uma extensa pesquisa sobre a arte e a cultura de várias regiões brasileiras. Na exposição itinerante que realizou em 2011, mergulhamos num rio cheio de brasilidade e uma parte me chamou muito a atenção: a cantora Maria Bethânia declama o poema “Águas e Mágoas do rio São Francisco”, escrito por Carlos Drummond de Andrade em 1977, e a voz de Bethânia ecoa de 16 vestidos que compõem o ambiente “A Voz do Rio”, ou seja, são vestidos musicais nos quais as pessoas podem encostar e ouvir. Uma rica experiência em que a arte mescla-se com a cultura que pode ser apreciada no site www.saofranciscoronaldofraga.com.br.
Esse ano Ronaldo Fraga não está participando do São Paulo Fashion Week. Em uma carta aberta publicada em seu blog, Fraga, que há 17 anos participava do evento, explicou que decidiu pular a temporada de inverno para lançar o livro “Caderno de Roupas, Memórias e Croquis”. “Em outras palavras, trocarei a passarela por uma pausa e por uma escolha pela concentração em palavras, riscos, rabiscos e desenhos”, escreveu.
E nós, continuamos pesquisando a identidade local. Convido a todos(as) para mergulharmos nessa reflexão e pensarmos juntos. Qual é a identidade de Juiz de Fora?
Foto em Destaque: Divulgação / Bruno Magalhaes / Agencia Nitro