122 anos da energia elétrica em Juiz de Fora

Dia 5 de setembro

122 anos da energia elétrica em Juiz de Fora

Não poderia deixar de comemorar essa data. As aquarelas que fiz para a exposição um “palmo de arte” da Confraria de Arte no Fórum da Cultura – JF, é uma homenagem a Bernardo Mascarenhas.

A primeira aquarela refere-se ao seu apelido “pardal do sertão”

um pardal no  meio de canarios Rose Valverde jul2011 m - 122 anos da energia elétrica em Juiz de Fora
Um Pardal no Meio de Canarios – Rose Valverde – Julho de 2011

 

Diziam do Bernardo antes de sua partida para Juiz de Fora: – “Vamos ver o que o pardal do sertão vai conseguir no meio dos canários da cidade”. Em uma carta enviada ao irmão Caetano em 17 de agosto de 1887, Bernardo diz: “Espero em Deus que o humilde pardal do sertão não fará papel triste aqui na terra dos canários e nem voltará para sua terra quebrado e a mendigar empregos como alguém vaticinou”. 

Alguns anos depois, estavam desmentidos os prognósticos amargos. O pardal do sertão merecia o respeito e a admiração dos canários da cidade e até dos da Côrte, que lhe davam o nome às ruas e o queriam fazer visconde.

E assim, ficou a partir daí conhecido como o “Bernardo de Juiz de Fora”.

A segunda Aquarela – Teia / Tear – Os sonhos de Bernardo

Teia Tear Sonhos de Bernardo Mascarenhas - 122 anos da energia elétrica em Juiz de Fora

Embalado por seus sonhos embaixo das árvores da Fazenda de São Sabastião, Bernardo iniciou seus devaneios.Vendo as teias que as aranhas teciam nas copas das árvores formando suas tramas ele tecia seus planos. Assim como essas teias Bernardo veio mais tarde tecer seus fios e produzir os tecidos nos quais envolveria seus projetos concretizados.

Na terceira aquarela uma lâmpada guarda em seu interior a imagem de Bernardo. 

122 anos de Luz Rose Valverde Julho de 2011 - 122 anos da energia elétrica em Juiz de Fora

Relembrando um jornal da época percebemos a importância de seua realização: “A Rua Halfeld, que era a principal, estava ocupada em vários pontos por grandes faixas suspensas com galhardetes de colorações variegadas e que de longe apresentavam aspecto garrido. Em diversos prédios viam-se lanternas multicores, arandelas de cristal e bandeiras com as cores nacionais. Às sete horas da noite, em frente a tecelagem Mascarenhas, onde se aglomerava a multidão de populares, Bernardo ligou a luz e franqueou ao público o estabelecimento inteiramente iluminado. Logo a seguir formou-se um cortejo imenso, tendo à frente a Diretoria da Companhia Mineira de eletricidade, que percorreu as ruas da cidade, tôdas iluminadas, enquanto vários fogos de artificio rabiscavam no ar (MASCARENHAS, 1957).”

Há dias, uma lâmpada estourou em minha casa e de uma forma surpreendente ficou semelhante à pintura que fiz. 122 anos depois eu segurava um símbolo quebrado que, para mim, representa o fim, porque o que se quebra não pode ser colado.

A PREOCUPAÇÃO DE BERNARDO COM A INSTRUÇÃO DE SEUS FUNCIONÁRIOS

Na pesquisa que estamos realizando para o Projeto de História em Quadrinhos, no qual relataremos na primeira história a vida de Bernardo, um dos fatos que mais me deixou agradavelmente surpresa foi sua preocupação com a EDUCAÇÃO. Esse exemplo é o que queremos mostrar para nossos jovens e apresentar para todos esse personagem empreendedor, dedicado e inovador.

Estabelecida na zona rural, com estrutura urbana precária, tanto na vizinha Tabuleiro Grande como no arraial do Cedro, a fábrica passou a cuidar de toda a vida de seus operários, construindo casas para suas moradias, fornecendo-lhes através de um armazém géneros alimentícios, vestimenta, medicamentos, além de prestar-lhes assistência médica e instrução. Quanto à instrução, ela passou a ser uma necessidade, uma vez que o trabalho industrial, diferentemente do agrícola, necessitava que o operário soubesse ler e escrever, não só para compreender melhor as instruções que lhe eram passadas, como fazer alguns cálculos para executar seu trabalho.  Tudo indica que a escola, tanto a feminina como a masculina, começou a funcionar em junho de 1874, já que no dia 13 aparece a seguinte anotação no Livro-Diário: “A Caixa – Escola noturna -Pago a Valeriano Ferreira da Silva por 5 candieiros para a escola a 2$900 – 14$500; idem a Serafim Marinho (sua conta emassada) pelos serviços de seus carpinteiros na construção de bancos, mesas para a mesma escola – 72$600 – 87$100” (LD-CE,1872-1880:316).
No mesmo Livro, vemos duas anotações referentes ao professor que foi contratado. A primeira é de 27 de junho de 1874 referente ao pagamento “por 25 dias que lecionou a 1$000 25$000”, e a outra de 25 de julho relacionada a um “adjutório ao mestre para sua mudança 12$000” (LD-CE.1872-1880:321 e 334).
A alfabetização era vital para a qualificação do operário, principalmente para a formação de futuros técnicos nacionais. Saber ler, escrever e fazer as quatro operações eram condições fundamentais para o exercício de algumas funções, notadamente as técnicas, as de controles e as de chefias. A escola, portanto, exerceu um papel decisivo para o aperfeiçoamento técnico e social do operário.
Tornando-se alfabetizado, o acesso a manuais e plantas melhorava sua condição profissional, já que passava a entender o funcionamento dos equipamentos, além de passar a assimilar, com mais clareza, o regulamento e outras normas escritas, o que lhe permitia aprender novos hábitos, diferenciando-o do escravo e do trabalhador rural analfabetos e na sua maioria desqualificados, com pouquíssimas oportunidades de ascensão profissional.
Foi, portanto, do ponto de vista social que a escola teve uma influência decisiva na vida do operariado, não só diferenciando-o dos demais trabalhadores analfabetos, mas estimulando-o para que “o jovem operário crescesse profissionalmente e ascendesse social e economicamente” (GIROLETTI, 1991:99).*

Um País que não investe em EDUCAÇÃO não está avaliando o quanto está perdendo nem o que estará irremediavelmente destroçado no futuro.

Dignidade, saber e auto-estima não tem preço e só pode ser conquistado com investimento no desenvolvimento do ser humano.

Num momento em que lutamos pela qualidade da EDUCAÇÃO e pela valorização do PROFESSOR esse exemplo nos impulsiona e nos faz esquecer os obstáculos e procurar sempre o sucesso e a concretização de nossos sonhos.


*MASCARENHAS, Nelson Lage, Bernardo Mascarenhas – O surto industrial de Minas Gerais, Gráfica e Editora Aurora, RJ , (1957?).