Meu pai sempre citava para nós uma frase do Gibran. Dizia mais ou menos assim: “Vossos filhos não são vossos filhos, são filhos da ânsia da vida por si mesma…”. Foi uma referência para eu criar minhas filhas. Mas, o que eu não sabia é que ele era também um exímio pintor e desenhista e sua arte mística atraiu a atenção da Diretora de uma escola americana que lhe ofereceu uma bolsa de estudos em Paris. Conviveu com Rodin e expos em 1910 em Paris. Todos os seus livros escritos em inglês foram ilustrados por ele com desenhos evocativos e místicos.
Sua sensibilidade e leveza de traços, aliada a singeleza de suas palavras fazem parte da herança deixada por ele e merece ser divulgada…
Abaixo trechos do livro O Profeta (1923):
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da Vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não são de vós.
E embora convivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes o vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós;
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, também ama o arco que permanece estável.”
Sobre o Ensino
Depois um professor disse, Fala-nos do Ensino.
E ele respondeu:
Ninguém vos poderá revelar nada que já não esteja meio adormecido na aurora do vosso conhecimento.
O professor que caminha na sombra do templo, entre os seus discípulos, não dá a sua sabedoria mas antes a sua fé e amor.
Se for realmente sábio, não vos convida a entrar na casa da sua sabedoria, mas antes vos conduz ao limiar do vosso próprio espírito.
O astrónomo pode falar-vos do seu entendimento do espaço, mas não vos pode dar o seu entendimento.
O músico pode cantar-vos o ritmo do espaço, mas não vos pode dar o ouvido que faz parar o ritmo, ou a voz que dele faz eco.
E aquele que é versado na ciência dos números, pode falar-vos de pesos e medidas, mas não pode levar-vos até lá.
Pois a visão de um homem não empresta as suas asas a outro homem.
E, mesmo que cada um de vós esteja sozinho no conhecimento de Deus, também cada um de vós deve estar sozinho no seu conhecimento de Deus e na sua compreensão da Terra.”
Livros escritos por Gibran: 1905/1920 – Gibran escreve quase que exclusivamente em árabe e publica sete livros nessa língua: 1905, A Música; 1906, As Ninfas do Vale; 1908, Espíritos Rebeldes; 1912, Asas Partidas; 1914, Uma Lágrima e um Sorriso; 1919, A Procissão; 1920, Temporais. Curiosidades e Belezas, (publicado após sua morte, composto de artigos e histórias já inseridas em outros livros e de algumas páginas inéditas).1918/1931 – Gibran deixa, pouco a pouco, de escrever em árabe e dedica-se ao inglês, no qual produz também oito livros: 1918, O Louco; 1920, O Precursor; 1923, O Profeta; 1927, Areia e Espuma; 1928, Jesus, o Filho do Homem; 1931, Os Deuses da Terra. 1932, O Errante e 1933, O Jardim do Profeta. (publicados após sua morte)